
Em algumas antigas civilizações e atualmente em alguns povos isolados, existem rituais de passagem quando um indivíduo passa da juventude para a vida adulta. Pode ser na forma de cerimônias ou através de testes de resistência, como pular de bungee jump com um cipó ou colocar as mãos cheias de mel em um tipo de luva de palha cheia de formigas. Atualmente a grande maioria da população ocidental marca os seus períodos de vida através de objetos adquiridos.
Durante a infância precisamos ter o brinquedo da moda, ao entrar na adolescência é o período que trocamos os brinquedos por roupas e vídeo-games. Conquistamos o primeiro passo da independência quando ganhamos um carro. Depois disso precisamos de uma casa, mesmo que isso signifique morar sozinho em um apartamento no mesmo prédio do resto da família, e assim aos poucos, vamos comprando e consumindo tudo aquilo que é referência para uma vida feliz.
Ao invés de liberdade o que recebemos é a escravidão trazida pela dependência de tais objetos. O melhor exemplo para demonstrar isso é o carro.
Na semana passada, dia 22 de setembro, foi o “Dia Mundial sem Carro”, um movimento para chamar a atenção para o problema que é o excesso de carros nas ruas todos os dias.
É um bom exemplo por ser o claro triunfo do egoísmo sobre o senso de coletividade. Cada vez mais o ser humano se fecha em um mundo só dele, cercado pelas coisas que ele possui, se relacionando o mínimo possível com outras pessoas. É relativamente comum a cena em uma família de quatro pessoas, todas estarem assistindo a um mesmo programa de TV, mas cada uma em um cômodo da casa, sozinha.
A política surgiu como uma forma de organizar e controlar a vida em sociedade, e fazer com que haja serviços que sirvam ao maior número de pessoas possível. No Brasil o sistema de transportes é precário, e qualquer um que o utiliza se tivesse a possibilidade de trocar sua condução usual por um carro, o faria sem hesitar.
Com o incentivo da redução de preço nos impostos e o aumento das passagens do transporte coletivo, financeiramente acaba compensando comprar um carro parcelado do que pagar o ônibus, metrô e trem todos os dias.
A escolha de ficar preso no trânsito por uma hora, embora extremamente estressante, parece mais agradável do que ficar vinte minutos exprimido dentro de um trem. A pessoa que se acostumou a andar de carro terá muitas dificuldades em se adaptar novamente a utilizar o transporte coletivo.
Vivemos o aqui e agora, o conforto imediato da tecnologia, sem nos preocuparmos que isso gera conseqüências como poluição e extinção de elementos da vida de hoje, que não serão deixados de legado para as gerações seguintes, e aquele pensamento “eu não vou estar vivo mesmo, então tudo bem” já não serve mais por que muitas conseqüências já estão sendo sofridas agora. Em muitos momentos o homem provou ser capaz de transpor dificuldades, e esse é mais um deles. O problema dos carros não será resolvido com um dia por ano em que algumas pessoas deixam o carro em casa, mas sim quando todos tiverem a consciência de que precisam fazer algo em conjunto para o seu próprio bem.
Dica: O filme “Naqoyqatsi” do diretor Godfrey Reggio, trata justamente da questão que o nosso planeta globalizado, cercado de tecnologia e conectado, ao mesmo tempo que encurta distâncias acaba por destruir o mundo, devido o seu mau uso.
É um documentário feito a partir do bombardeio de imagens preocupantes e inspiradoras que devemos tomar cuidado para não banalizar, já que nos acostumamos a vê-las na TV e jornais, seja na forma de notícias ou de publicidade.
E o termo “Naqoyqatsi” significa na língua Hopi “a vida como destruição” podendo ser interpretado também como “violência civilizada”, completamente adequado ao momento que vivemos hoje.
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