A discussão dos candidatos à presidência do Brasil sobre a descriminalização do aborto tomou conta das notícias durante a semana. A posição de cada um dos presidenciáveis repercutiu no exterior, levando inclusive jornais estrangeiros (como o Le Monde na França e o Financial Times do Reino Unido) a publicarem as recentes declarações de José Serra (PSDB) e Dilma Rousseff (PT).
A última pesquisa feita pelo Instituto Sensus aponta um empate técnico entre Dilma e Serra no segundo turno das eleições. Independente de que quem for eleito (já sabemos que as pesquisas não são confiáveis), a única certeza é que mais uma vez o Brasil não tomará uma posição clara frente ao assunto. Se por um lado o ex-governador de São Paulo claramente evita entrar em discussões sobre o tema, a ex-chefe da Casa Civil se afunda em incoerências durante suas declarações.
A influência de instituições religiosas no Brasil ainda é muito grande; segundo as últimas pesquisas feitas pelo IBGE, 73,8% de brasileiros declaram-se católicos e outros 15,4% evangélicos (incluindo os tradicionais e os pentecostais). De acordo com os dogmas das duas religiões, a vida de um ser humano começa logo após a sua concepção e qualquer forma de atentado contra ela é um crime perante o Divino.
No debate do último domingo (10) transmitido pela Rede Bandeirantes, José Serra desejou comovido às câmeras “que nossas crianças nasçam e cresçam num Brasil livre com bons exemplos de união, de fé e respeito à liberdade e aos valores cristãos”, sem mencionar a sinistra palavra “aborto”. Curiosamente, um dia depois da divulgação de uma carta do pastor Silas Malafaia criticando a posição de Dilma Rousseff sobre o assunto, a presidenciável declarou-se contra a descriminalização.
É provável que Dilma e Serra só agora tenham notado a forte influência religiosa exercida sobre o país e, conseqüentemente, sobre seus potenciais eleitores. Se a Igreja não fosse tão poderosa, seria simples convencer a população de que 50% dos abortos praticados no Brasil são clandestinos, sem as mínimas condições de higiene ou informações. Nos Estados da Bahia e Pernambuco, inclusive, o aborto ocupa o primeiro lugar entre as causas de morte materna.
Sabendo que a Igreja é capaz de direcionar o voto de seus fiéis, Serra e Dilma concordaram em fazer papel de “mocinho” e “mocinha” frente à massa manipulada por idéias supostamente espiritualizadas. Assim como os seguidores, estariam os candidatos tentando garantir seu lugar no céu?
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