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2010-10-17

Uma idéia que beneficia muitas VIDAS



Nos meus anos de ensino médio no Colégio Bandeirantes, tive a sorte de ter como professora de inglês Patrícia Goloni Lolo. Em suas aulas, sempre divertidas, era recorrente ouvir comentários de seu filho, fruto da relação muito admirada pelos alunos com o professor de matemática Gleney Andreotti Lolo. Gabriel, sempre que aparecia pelos corredores do colégio chamava muita atenção por seus olhos extremamente azuis como os do pai. Tendo nascido com uma deficiência física, Patrícia sempre procurou proporcionar a ele as melhores condições possíveis. Aluno de uma escola tradicional, Gabriel sempre esteve em contato com crianças que não possuíam a mesma condição que ele e, por muitos anos, viveu de igual para igual com todos. Sendo da natureza do ser humano, sempre que Gabriel precisava de ajuda em algo, muitos colegas estavam a disposição para ajudá-lo e o faziam de bom grado, levando-o a acreditar que era um menino realmente especial e que teria sempre suas vontades atendidas em menos de dois segundos.
Mas essa situação ia completamente contra os princípios de Patrícia, que criou um caminho inverso. Sua idéia era proporcionar a Gabriel um contato maior com pessoas que estivessem na mesma condição que ele e tivessem que superar os mesmos obstáculos todos os dias. Levando em consideração a paixão de Gabriel por esportes, a primeira atitude tomada por Patrícia foi procurar um local que tivesse as condições adequadas para isso, porém não obteve sucesso em sua procura. Junto à isso, Patrícia sentia uma necessidade de retribuir ao mundo todas as oportunidades que teve e isso levou a professora que já possuía muitos fãs a germinar uma idéia em sua cabeça. Assim nascia VIDAS, Vivência e Inclusão da pessoa com Deficiência por meio de Atividades e Sensibilização, uma ONG que utiliza dos espaços do Colégio Bandeirantes aos sábados à tarde para realizar suas atividades.

Apesar de o esporte ter grande importância no VIDAS, ele não é a finalidade principal do trabalho; a bola, para eles, é apenas um meio. Através das atividades desenvolvidas de forma lúdica e respeitando a idade e limitação de cada um, a ONG tem como principal objetivo dar a criança e ao adolescente com deficiência física oportunidades de socialização. “Realmente acredito que a convivência social é importante na formação do indivíduo e que o esporte é um grande agente transformador e potencializador das várias capacidades humanas.”, afirma Patrícia. Além das crianças, o VIDAS estende suas atividades para além do deficiente, uma vez que essa situação mexe com toda a estrutura familiar. Assim, pais e irmãos encontram na ONG um espaço para terem um tempo para si próprios, com atividades como oficinas de artesanato, teatro, música, aulas de yoga e expressão corporal, grupos de discussão, entre outras. “Enquanto as crianças estão na quadra, as mães estão fazendo a atividade delas, tendo um momento só pra elas, filho não entra.”
A iniciativa de Patrícia foi tão bem aceita pelo Colégio, que além do espaço físico oferecido, muitos professores e alunos se colocaram a disposição do VIDAS como voluntários. Num sistema de revezamento de cerca de 60 alunos-voluntários, a ONG tem, todos os sábados, por volta de 15 alunos auxiliando em todas as atividades, não só como “cuidadores”, ficando lado a lado de cada criança, como também na parte técnica, tirando fotos, organizando as atividades com os familiares, preparando os relatórios pós-atividades, feitos semanalmente, e na alimentação do blog da ONG.
VIDAS tem ganho cada vez mais espaço e seu sucesso aumentou tanto que já existe uma lista de espera para aqueles que querem participar de suas atividades. Todos os inscritos passam por uma avaliação e conforme vão surgindo vagas de acordo com a disponibilidade de cada grupo, as crianças, que devem ter entre cinco e 18 anos, são chamadas, sem haver qualquer tipo de restrição. “Damos prioridades a crianças com deficiências físicas, mas aceitamos praticamente todos, até porque é difícil uma criança ter uma deficiência isolada ou não ter um comprometimento cognitivo advindo de suas deficiências físicas”, diz Patrícia.
Para aqueles que ainda têm dúvidas sobre a eficiência das atividades da ONG, perguntei à Patrícia sobre uma mudança na atitude de crianças que participam de suas atividade desde o início. Como resposta, ela disse que já percebe que algumas que não eram muito sociáveis e nem sorriam muito, já o fazem e gostam do contato com outras crianças. Citou como exemplo uma participante que, ao entrar no VIDAS, não aceitava conduzir sua própria cadeira de rodas e, em apenas alguns meses de freqüência, mudou de atitude e o faz. Além disso, falou do próprio Gabriel, que hoje já pensa nas dificuldades das crianças com quem convive na ONG até quando ajuda Patrícia a decidir sobre as atividades que fará no sábado seguinte.
Para mais informações sobre o funcionamento do VIDAS e de como participar de suas atividades, a ONG possui um site que é freqüentemente alimentado com fotos e novidades. Nessa mesma página virtual, existe um espaço para quem quiser se voluntariar ou ser doador de uma iniciativa que partiu de um caso particular para beneficiar uma série de outras pessoas.


Um comentário:

  1. Rafaella,
    você escreve brilhantemente. Adorei a matéria! Apareça qualquer dia para sentir de perto a emoção! O ginásio onde você fez muitas cestas fica até mais bonito!
    CCris

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